quarta-feira, setembro 28, 2005

Ao virar da esquina

 

Acordar, aulas, casa, almoço, biblioteca, livros, fotocópias, ler, jantar, ler, net, traduzir, esquematizar declinações islandesas, esquematizar períodos da arte viking, ler... como estes últimos dias têm sido. Tenho um trabalho sobre a virtude antiga da hospitalidade para entregar dia 14 e não páro de acumular bibliografia e informação. Só hoje foi levantar mais um livro à biblioteca universitária e depois segui para a da faculdade para agarrar noutros três e fotocopiar um capítulo de cada um sobre os nomes das runas ou o poema rúnica anglo-saxão... trabalho, trabalho, trabalho!

Mas mudando de assunto, esta entrada vai direitinha para o meu querido amigo Fábio. Ando tirar umas certas fotos desde os primeiros dias, assim que me apercebi de certas coisas que havia nesta ou naquela rua. Fábio, para ti que adoras a Grécia, aqui vão cantinhos gregos em Uppsala, mesmo ao virar da esquina ;)



Comida rápida grega e sueca. Não te esqueças que também tens uma coisa do género no Atrium Saldanha em Lisboa. Apanhas o metro, sais no Saldanha (linha amarela), entras no centro comercial com a porta giratória e é em baixo junto ao piano ;)





Este deve ser dos baratinhos, deve: em plena zona histórica e à beira-rio, junto ao museu da província. Que luxo :p







Qualquer dia vou a um destes restaurantes, assim o mais baratinho, e como qualquer coisa grega ;) Beijinhos e abraços para todos. E Nuno, parabéns por teres sobrevivido a uma noite infernal na luta com a tua tese de mestrado, lol.

sexta-feira, setembro 23, 2005

E vai um mês!

 

Pois é, como o tempo passa. Faz hoje exactamente um mês que eu cá estou. Muita coisa se tem passado desde o dia 23 de Agosto: já saio com os meus colegas de curso, trato os professores por tu (lol), já conheço os cantos da faculdade, dou conta de algumas funções muito básicas em sueco, já dou com os serviços minimos da cidade, etc. Mas talvez o mais importante de tudo é que já estou a morar numa residência de estudantes dentro de Uppsala!! :D Mudei-me há dois dias e já posso ter internet todos os dias, ir a pé para as aulas, começar a construir uma rotina saudável e criar uma vida social de jeito. Até que enfim! Se me quiserem escrever, a morada é a seguinte:

Sernanders väg 1 - 113,
752 61 Uppsala,
Suécia

Escusado será dizer que estou a adorar o curso, ou não fosse mesmo este tema o que eu queria :) As aulas são dadas por académicos de renome, peritos nas suas áreas e com trabalho publicado, o ambiente é descontraído e sociável (como seria de esperar num mestrado) e a avaliação diversificada, em vez de depender apenas de exames. Neste momento estou a fazer um trabalho sobre a virtude da hospitalidade na antiga sociedade escandinava, tenho um teste de islandês antigo marcado para dia 4 de Novembro e já ando a fazer uma pequena pesquisa para projectos de tese, a entregar no mesmo dia que o trabalho, dia 14 de Outubro.

Mas como esta entrada é para celebrar o meu primeiro mês por terras suecas, já chega de conversa e vamos às fotografias, muitas, como disse o Henrique :)



O meu último pastel de nata, já no aeroporto de Lisboa. Diogo, olha que temos que ir ao pasteis de Belém outra vez ;)



Euro Shopper! Jeta e Coutinho, por aqui há resmas de coisas da "nossa" marca e ainda bem: é do mais barato que se consegue arranjar pela Suécia e sempre esboço um sorriso à Óbidos :p



O meu primeiro pequeno-almoço na Suécia. Regra geral são todos assim: flocos, pão com manteiga e uma peça de fruta.



Esta fotografia ainda foi tirada no hotel no meio do nada. Cá na residência ainda não arranjei uma parede definitiva para a bandeira.



O Quem quer ser milionário em sueco :p



Esta é para ti, Rilhó: Sexo e a Cidade!!! :D Felizmente na Suécia as séries e filmes são como em Portugal: legendadas! Passaram a última temporada inteirinha o quer dizer que sim, já vi o discurso da Samantha no jantar de mulheres que sofreram de cancro da mama: Ah fuck it, LOL!









Um dia fiz zapping e dei por mim a ver o jogo do Agassi contra o Ginepri no Open dos Estados Unidos. Fiquei horas de olhos postos na televisão...



...não faço a mínima ideia porquê (Cof! Cof!)



O Sampaio na BBC News, em directo das Nações Unidas. Dá-lhe, homem!



Eu já me tinha apercebido que o cemitério de cá não tem nada a ver com os portugueses: na prática é um enorme jardim urbano estilo o botânico de Coimbra, com grandes avenidas de árvores, um laguinho ou outro, bancos e grandes canteiros. Nem sequer tem um muro alto à volta, apenas a meia altura ou uma cerca de arbustros. E como se isso não bastasse, tem coelhos a passear pelas extensas áreas de relva bem cuidada...



E um mês depois, eis que arranjei um martelo do Thor, hehehe. Dei com ele hoje à venda na zona pedonal da cidade, num banca estilo as que estão junto ao arco da Rua Augusta em Lisboa. Já posso ser identificado pelos pagãos locais, lol.

Bem, vou tratar do jantar. Um grande beijo e abraço a todos. Obrigado a todos os que me têm enviado toques e mensagens: adoro-vos! :)

quarta-feira, setembro 07, 2005

Para casa...vamos antes a Estocolmo!

 

A Aylin é uma rapariga nos seus 30 e tais e com ideias próprias: como o regresso a Uppsala era a belo prazer de cada um, ela decidiu ir dar uma volta pela cidade velha que era mesmo na outra margem e eu fui com ela. Passeámos por ruas medievais, vimos casas lindíssimas, um sem fim de lojas, bares e cafés, o palácio real e um restaurante dentro de um barco viking. Estocolmo é definitivamente uma cidade a visitar com calma, mas pelo menos já fiquei com uma ideia. Cá vão umas fotografias:











Olhem-me só o detalhe desta porta com os canhões nos lados. Toda a fachada do edifício era lindíssima.









Fachada do Museu Nobel.



O edifício magrinho à direita do vermelho tinha uma bandeira gay à porta: vim parar ao Chiado de Estocolmo, LOL!



O primeiro vislumbre do palácio real. Alguém quer um autógrafo do príncipe Carlos-Filipe ou da princesa Vitória? :]



O barco viking-restaurante. Só não vi foi cornos de beber, mas suponho que tinham hidromel :p

Vamos ao mercado II

 

Talvez seja conveniente um pouco de geografia para vocês se situarem num mapa. O Lago Mälar estende-se desde o mar Báltico a oriente até ao interior sueco a ocidente, banhando Estocolmo e o extremo sul de Uppsala. É obra dos glaciares da Idade do Gelo que escavaram lentamente a rocha e deram origem a este extenso lençol de água repleto de penhascos, praias e uma enorme quantidade de ilhas de todos os feitios e tamanhos. A paisagem é dominada pelo verde da floresta e o azul do lago, mas pelo meio vislumbram-se aldeias, casas de campo mais ou menos isoladas e barcos de recreio.









O Florent (francês) e em segundo plano o Ralph (alemão).





Lá pelas onze e picos, depois de muita fotografia e amena cavaqueira, eis que chegámos à ilha de Björkö, onde se encontram os vestígios de Birka. Digo vestígios porque o posto comercial não sobreviveu ao declínio do século X, provocado por uma outra coisa em sentido descendente: a queda progressiva do nível da água.

Birka foi fundada algures na segunda metade do século VIII, provavelmente sob os auspícios de um rei ou líder local. A disposição dos edifícios, pelo menos, revela alguma forma de planeamento urbano desde a sua fundação até à sua extensão máxima em 950. Aquando da fundação da localidade, o nível da água era mais alto do que o actual em cerca de cinco metros e metade da ilha de Björkö encontrava-se submersa. Mas o recuo do gelo e a redução do peso exercido pelo mesmo originou uma progressiva elevação da terra e, pela consequente alteração da linha costeira, que o acesso por barco a portos como Birka fosse cada vez mais difícil. A localidade acabou por ser abandonada em 970 e outros postos comerciais na Escandinávia acabariam por sofrer o mesmo destino. Depois desta curta lição de história, vamos a umas fotos.




O desembarque. O rapaz à esquerda é o Shane, o meu colega australiano.





A subida para um dos cemitérios antigos. Birka chegou a ter uma população considerável e foi palco de uma das primeiras tentativas de cristianização da Escandinávia logo no século VIII, por um monge de nome Anskar. Falhou, e a grande maioria das milhares de sepulturas existentes na ilha são pagãs. Todas aquelas pequenas colinas são túmulos, meus caros, alguns ainda com pedras a contorná-los.





O primeiro vislumbra da área plana onde, em tempos, se ergueu Birka. Hoje é um terreno de pasto onde, todos os anos, se procede a escavações arqueológicas.



Nas ruínas do castelo com o Lars americano à esquerda. Birka, como qualquer localidade rica da época, era fortificada e disponha de um castelo no topo de uma colina rochosa coroada com uma paliçada.



Uma das ovelhas de Birka, em pose firme e hirta para a primeira página da Playsheep, LOL!



As margens do lago Mälaren da antiga localização de Birka. Durante os séculos IX e X, a cidade foi o primeiro posto comercial escandinavo com o oriente europeu. Foram encontradas diversas moedas de prata islâmicas que chegavam à Suécia pelas rotas comerciais que atravessavam a actual Rússia, Bizâncio, os reinos muçulmanos do Cáucaso e chegavam mesmo a Bagdade. Um achado numa ilha perto de Björkö tem uma origem ainda mais distante: uma pequena imagem de Buda originária da Índia. Dá para ter uma ideia da extensão das rotas comerciais que convergiam para este local e da sua consequente importância.



Upalálá, ‘tá a passar por cima de uma vedação electrificada :p



Antiga localização de Birka e, acho que dá para notar, os vestígios do castelo no lado esquerdo.

Depois fomos ao maior cemitério antigo da ilha. Chamam-lhe Hemlanden, a terra natal, e tem cerca de 1600 túmulos, quase todos eles pagãos. Uma vez mais, todas as colinas que vocês vêem nas fotos são sepulturas de habitantes e comerciantes de Birka. Henrique e Artúrio, deliciem-se: para quem já leu o Senhor dos Anéis, era isto o que o Tolkien tinha em mente quando descreveu a paisagem depois da casa do Tom Bombadil, onde os hobbits adormeceram e foram atacados por um fantasma:







Depois do passeio entre os mortos, ainda fomos visitar o museu de Birka e, lá pelas três da tarde, apanhámos o barco de volta para Estocolmo.





De pernas esticadas a velocidade de cruzeiro :)Da esquerda para a direita: eu, o Lars americano e a professora Alexandra.









A surpresa do dia: primeiro na ilha e depois a bordo pareceu-me ouvir uma língua familiar, palavras tipo “fazer”, “bom” e “tarde”. A bordo estava um casal de turistas portugueses, os primeiros ‘tugas que encontro por terras suecas. Já não era sem tempo!