sexta-feira, março 31, 2006

Partir a neve a rir - Primeira parte

 



Era uma vez um deus chamado Zeus, senhor do Olimpo, rei dos deuses gregos. Tinha (e tem), portanto, o melhor emprego do mundo: o de ser patrão entre os patrões. Mas além de um posto de trabalho invejável, esta divindade ajuntadora de nuvens - como ele é chamado na Ilíada - tem também a característica de ser um mulherengo exímio, aproximando-se de e engravidando mulheres mortais sob a forma de um touro, cisne ou até de chuva dourada. É arte! O melhor que a maioria dos machos latinos que para aí andam consegue fazer não vai para além de brilhantina no cabelo, palito ou cigarro no canto da boca e camisa aberta com um fio de ouro pendente. Quando muito conseguem assemelhar-se a um pombo, mas apenas no que ao tamanho do cérebro diz respeito. Chuva de ouro é outro nível e não está ao alcance de qualquer um.

Ora, um dos filhos de Zeus era (e é) um outro ser divino chamado Dionysos, aquele que os portugueses têm muito a mania de chamar Dionisio: quando muito seria Dioniso, sem um i na última sílaba. Acontece que Hera, a mulher de Zeus, nunca andava muito contente com as escapadelas terrenas do marido e, muito naturalmente, desenvolveu um divino sentido de vingança que, por razões de hierarquia, não se podia abater sobre o marido, logo quem pagava as favas eram as amantes terrenas (e os filhos, se possível). Assim foi com a mãe do deus do vinho, estava ela ainda grávida de Dionysos, quando Zeus, a pedido dela e por sugestão de Hera, mostrou-se completamente nu! E quando digo completamente, é mesmo completamente: revelou-se em toda a sua essência divina sem nada a tapar, fosse túnica, barba, sandálias, folha ou tecido estrategicamente colocados, ramos de flores ou forma humana, animal ou vegetal (ou chuva dourada). A coisa foi fatal para a pobre mulher porque Zeus é deus dos trovões, o que quer dizer ela acabou esturricada de cima a baixo. Mais uma vez, é arte (mesmo que infeliz): o máximo que um bom macho latino consegue fazer quando ele se despe diante de uma mulher é fazê-la rir ou chorar. Fulminá-la com um strip integral é obra!

Mas antes da pobre rapariga morrer por motivos de uma descarga eléctrica inesperada, Zeus retirou-lhe o feto do ventre e coseu-o à sua coxa, onde o ainda embrião de Dionysos passou os seus últimos meses de gestação até nascer firme e hirto como uma pipa de vinho. Por este motivo ele veio ao mundo como um imortal e ganhou o título de Deus nascido duas vezes, além de se poder dizer com toda a propriedade que é tão filho da sua mãe, como do seu pai.

E perguntam vocês: o que é que esta história toda tem a ver com a Suécia e a neve fora de estação? Nada! Ou quase nada. Dionysos é conhecido como deus do vinho, sim senhor, mas os seus atributos abragem muitas outras coisas e uma delas é toda a vegetação de um modo geral. Ora, já que a dita cuja por aqui não está a crescer nem que a vaca tussa (bela expressão portuga), vamos então recorrer a uma manifestação sublime dessa força vital que quebra amarras e faz as coisas crescer: o riso! Por alguma coisa um dos títulos de Dionysos é Amigo do Riso, algo que também assenta que nem uma luva no Freyr.

Já não sei porque é que escrevi isto. Perdi-me algures a meio do texto. Acho que era para fazer como já diziam os Monty Python na Vida de Brian e meter-me a rir quando as coisas não correm bem, neste caso quando a Primavera teima em não chegar. Neve é bom e bonito, mas além de cansar também tem uma época própria e Abril não se inclui nela. Bem, da próxima vez ponho uns vídeos para a malta dar umas valentes gargalhadas.

Sinais do Inverno...

 

O estado de coisas neste preciso momento :



Neve e mais neve! Está a nevar há horas, pelo que parece, e a última vez que o Inverno se prolongou até Abril foi na década de 70. Se hoje fosse amanhã, isto é, dia 1 de Abril, eu até pensava que isto era uma grande mentira de alguém lá em cima que tenha um sentido de humor apurado. Mas não, é mesmo verdade: o degelo ainda não é desta...

O pessoal do mestrado já diz que a Primavera só vai chegar quando acabarmos os trabalhos de Runologia: assim que nos virmos livres do bimbo o sol vai brilhar, as flores desabrochar e as árvores cobrir-se-ão de verde. Até que tem a sua lógica...

quinta-feira, março 30, 2006

Sinais da Primavera III

 



Jardim da Reitoria da Universidade de Uppsala, hoje de manhã por volta das 11.30 na hora galego-portuguesa :D Com a chuva miudinha que tem caido durante horas a fio e as temperaturas acima de zero, já só falta um pouco de sol para aquecer a coisa e pimba: vamos ter uma explosão de verde :D

Enquanto isso, em Alcobaça...



O que eu já espero e desespero por esta paisagem...

quarta-feira, março 29, 2006

E vai outro sportinguista

 

Desta vez não é de Alcobaça, mas sim de Lisboa, se bem que igualmente ferranho :p Por esta altura, quem quer que seja que esteja em casa dele deve estar a receber um postal com cinco sapos devidamente vestidos de verde e que têm para ele uma mensagem em seis sílabas, uma por cada e a última por todos:

PA-RA-BÉNS RI-CAR-DOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! :D

Aqui das terras do Reino da Suécia vai um abraço amigo com desejos de feliz aniversário. Tal como com o Miguel, tenho pena de não poder estar aí para me juntar à farra com o resto da cambada e acabar tudo no Lux, mas lá terá que ser. Para o ano há mais, talvez num restaurante indiano onde vai tudo à casa de banho para ver quem está na mesa atrás, LOL! Até lá...



... à tua! Que o teu dia seja de cinco estrelas! E sim, é a sangria do restaurante indiano em Dezembro :p

Parabéns!!!

terça-feira, março 28, 2006

Sinais da Primavera II

 

Para além do sinal primaveril que bafejou a Galiza, por cá também se sente alguns ares de mudança: os passeios começam a ficar secos, no rio o gelo já vai com a corrente e já se vêem alguns pedaços de erva aqui e ali :D E como se isso não bastasse, segundo a CNN, é isto o que se prevê para os próximos dias em Uppsala:


A ser verdade, vamos ter quase uma semana inteira com temperaturas acima de zero, o que equivale a dizer que a neve vai derreter como deve ser, sem o constante pára-arranca dos últimos tempos em que derretia de dia e voltava a congelar de noite. E sim, não se prevê sol, mas pronto, menos mal :p

E para quem está em Coimbra ou vai passar por lá na próxima quinta-feira, dêem uma vista de olhos no do Sol Poente, que está-se a preparar um momento galego na cidade dos estudantes ;)

segunda-feira, março 27, 2006

Foi-se com o vento...

 

A Galiza também tem a sua Madeira, um antro de populismo e tacanhice obtusa que se julga imune à lei e padece de défice democrático. Mas enquanto nós temo-la isolada num cantinho no meio do mar (ao menos isso!), os galegos têm-na ao virar da esquina, mais propriamente na Corunha, cujo município faz tábua rasa de qualquer plano ou acordo referente ao uso do galego.

Em Outubro do ano passado, a autarquia hasteou uma grande bandeira espanhola num alto mastro erguido na marginal da cidade, um pouco como Santana Lopes fez no Parque Eduardo VII em Lisboa...



Mas ontem, dia 26 de Março, o vendaval que se abateu sobre a Galiza derrubou a dita cuja, felizmente sem causar feridos:



Alguns já gritam alarmados que se rompe España! Sinceramente, eu espero bem que sim, deleitado que estou com este pequeno momento em que a Mãe Natureza derruba a soberda humana de um autarca com tiques franquistas. Que a Galiza, Catalunha e o País Basco rompam com a Espanha, sim senhor :]

Mais reacções com uma pitada de humor no VA-CA.

Actualização:

Apercebi-me que já está disponível um vídeo do depois do adeus da bandeira :p



Pelo que a um português na Suécia deu para perceber, as reacções dos galegos a este inspirado momento das forças da Natureza foi qualquer coisa ao nível de uma queda de neve em Lisboa: vídeos, fotografias, piadas e sobretudo muita alegria e celebração um pouco por toda a blogosfera. Nas palavras de uma nota citada nos comentários do VA-CA:

Colocar tamanha bandeira naquele mastro em meio da Couraça, era além de soberba e idiotize desconhecimento da história local. É todo um símbolo, pois as bandeiras são símbolos do que foi a Crunha [Corunha] de Francisco Vázquez [o autarca]. Soberba, desprezo e aparências, mas desconhecimento da história da Crunha. Brindo polo meu mar e o vento Marçal. E, menos mal que não houve que lamentar vitimas.

Serão bons ventos a soprar pela Galiza? :]

domingo, março 26, 2006

Próximo!

 

Mais um trabalho feito, mais um passo em direcção ao fim das aulas: acabei de escrever a coisa para a cadeira de Religião e Mentalidade Escandinavas Antigas. São oito longas páginas sobre a relação entre gigantes e deuses com mais de sessenta referências mitológicas, outras tantas de académicos e ainda uma tabela genealogica no final. Riam-se (ou chorem) um bocado com os nomes :p


Agora tenho que acabar o da cadeira de Runologia para entregar no dia 7 de Abril, fora um relatório para segunda-feira e ainda preparar-me para um seminário na terça... ao menos já faltou mais :p

Entretanto, para quem está em Lisboa ou arredores, na próxima sexta e sábado vai ter lugar um conjunto de actividades relacionadas com a Galiza, organizadas pela associação de galegos e portugueses Gz.pt.. Mais informações ainda hoje no Terra do Sol Poente.

Beijinhos e abraços a todos :)

sexta-feira, março 24, 2006

Momento luso

 

Hoje de manhã, ia eu a sair de casa para ir à faculdade falar com a Alexandra, quando um dos suecos a morar aqui no apartamento perguntou-me onde é que eu ia. A minha resposta: home (casa). Nem dei por nada. Foi instintivo da minha parte e se o Masond não me tivesse perguntado se eu ia de volta para Portugal apenas com uma mochila à costas, eu era bem capaz de ter continuado sem me aperceber do que tinha dito.

É a saudade a apertar...

quinta-feira, março 23, 2006

Engarrafamento sueco

 

Há coisa de três horas atrás, ia eu a passear pela baixa da cidade, quando dou com um pequeno engarrafamento. A coisa devia-se a algum problema junto à biblioteca universitária e tirei logo uma fotografia por causa de um pequeno detalhe que me chamou a atenção:



Os carros estavam parados tal e qual como podem ver aqui, deixando o centro do cruzamento livre para permitir a passagem de condutores que viessem noutros sentidos que não o congestionado. Reparem até noutro detalhe em segundo plano no lado esquerdo: o carro à entrada do cruzamento não tem nenhum outro colado à sua traseira, mas houve o bom senso de manter um pequeno espaço aberto, espaço esse em que se encontra uma passadeira.

Agora façam a comparação com os cruzamentos das avenidas lisboetas (e não só), onde os condutores se atravessam à frente uns dos outros porque não querem ficar parados no sinal vermelho durante uns meros minutos...

As voltas da faculdade

 

Esta entrada já devia ter sido publicada há algum tempo atrás. Já cá estou desde Agosto e, por incrível que pareça, ainda não vos mostrei o interior da minha faculdade. A única pessoa que chegou a ver um vislumbre da coisa foi o Ferro, via webcam e porque eu estava com o portátil na faculdade quando ele entrou no MSN. Por isso, para colmatar esta pequena falha da minha parte, cá vão umas quantas fotografias.

Recordo que parte da minha faculdade - o Humanistiskt centrum ou Engelska Parken - alojava há um ou dois anos atrás os departamentos de física e química, tanto que parte da estrutura ainda aparece em alguns mapas da cidade com o nome de Kemikum. Em Setembro, quando eu começei as aulas, ainda se estava dar uma última pintura nalgumas paredes exteriores e o interior cheirava a novo.



A entrada principal do edifício...



... e a escadaria que dá acesso ao Departamento de Arqueologia e História Antiga.



Como podem ver, o espaço imediatamente em redor das escadas tem luz natural em abundância e sofás e mesas para estudar, escrever, comer, conversar, descansar, etc. A propósito, foi numa destas mesas que uma das minhas colegas encontrou um dos livros via Book Crossing (para quem já não se lembra, vejam aqui). Também nestes sofás, como noutros pontos do edifício, é possível aceder à internet pela rede sem fios da faculdade.



A entrada no piso do meu departamento...



... e o seu longo corredor :p Por detrás da porta imediatamente à esquerda...



... está a minha sala de aula. A porta seguinte já sabem:



É a cozinha dos professores, a tal que tem a famosa caixa dos chocolates (está ali no lado esquerdo, entre o primeiro e o último móvel). Os estudantes também têm direito a uma divisão destas, localizada um piso mais abaixo...



... e devidamente equipada com umas quantas mesas...



... dez microndas e cinco frigoríficos, para os estudantes guardarem a comida que tragam de casa enquanto estão nas aulas. Também há lava-loiças, mas não aparecem na fotografia. E não, não é preciso pedir uma chave para ter acesso a esta cozinha: a porta está sempre aberta e qualquer pessoa pode entrar.

Depois temos a cantina universitária:



Uma vez mais, muito espaço e imensa luz natural. Reparem na parte superior do pilar imediatamente do lado esquerdo onde, mais ou menos ao nível do candeeiro, está pendurado um pequeno objecto. É uma coisa meramente decorativa que está em todos os pilares da divisão. Eis dois exemplares:





Para ir da sala de aula até à catina (ou vice-versa), tenho que passar por este corredor...



... onde, do lado esquerdo, estão uma data de computadores com acesso à internet e, do lado direito, fica a biblioteca da faculdade, com os seus quatro pisos e pelo menos uma cave com diversos arquivos. Por fim, vamos a umas fotografias das traseiras:







Visto isto, será talvez bom voltar a dizer que na Suécia não se paga propinas. A coisa mais parecida que sai do bolso de quem cá estuda é a inscrição semestral na Associação de Estudantes, algo que ronda os 40 euros, no máximo. Acrescente-se ainda que é obrigatório fazê-lo, uma vez que o cartão da associação é o cartão de estudante: os serviços da universidade não emitem dessas coisas, porque os alunos são considerados responsáveis por eles mesmos. Claro que a coisa nunca ia resultar em Portugal, onde as associações de estudantes funcionam demasiadas vezes ao sabor de jogos politico-partidários...

E só para dar que pensar (mais ainda): um cidadão sueco não só não tem que pagar para estudar numa universidade, como recebe do Estado qualquer coisa como 300 euros por ser estudante (já não me recordo se por mês, se por semestre). Mais: no estrangeiro, um sueco também pode estudar de graça, não porque esteja isento de pagamento graças a algum acordo internacional, mas porque o Estado sueco paga-lhe as propinas.

Claro que estas duas coisas também não iam resultar em Portugal: porque a fuga aos impostos é tremenda, porque gastamos milhões de euros a manter mordomias e privilégios de alguns, porque esbanjamos rios de dinheiro em obras faraónicas que enchem mais a vista que outra coisa, porque achamos que desenvolvimento se mede pela altura dos prédios, porque é um problema enorme ter um projecto nacional de jeito a médio prazo (quanto mais a longo!) e porque temos uma productividade de miséria, logo não acumulamos riqueza suficiente para termos níveis de qualidade de vida escandinavos. Ainda há uns dias atrás, a Rita estava-me a contar como quinze estufas da faculdade dela são controladas via computador por um único homem de 75 anos. Façam a experiência em Portugal: ponham um agricultor, trabalhador fabril ou funcionário público à frente de um computador e logo vêem o que (não) acontece.

terça-feira, março 21, 2006

Primavera galego-portuguesa

 

No dia em que se celebra a chegada da Primavera (chegada oficial, claro está...), aqui o je, como se não tivesse trabalho que chegue (cof!), pôs em andamento outro blogue: o Terra do Sol Poente está desde hoje em funções, pronto para ser mais um recanto no ciberespaço a dar uma mãozinha no esforço pelo bem da Galiza e da língua galego-portuguesa.

Que um galego se sinta em casa em Portugal, que um português se sinta em casa na Galiza!

Aula fora da sala

 

Hoje foi dia de uma aula diferente, não tanto pela matéria, mas antes pelos locais: primeiro no jardim frente à Reitoria da universidade, depois dentro da catedral da cidade e, finalmente, na área em redor da mesma. Objectivo: analisar as diversas pedras rúnicas espalhadas pela zona. A aula foi dada pela professora Anne-Sofie Gräslund, uma senhora de idade (deve andar perto dos seus 70 anos), académica de renome, super simpática, dinâmica e que se desloca até à faculdade de bicicleta.



A aula a decorrer. Sim, eu sei, está tudo de costas, mas também eu não ia pedir à professora para parar a explicação que ela estava a dar para eu poder tirar uma fotografia. Estavamos todos de olhos postos nesta pedra:



O texto é basicamente o mesmo do costume: pessoa A mandou erguer esta pedra em memória da pessoa X, que era o pai ou a mãe ou o irmão ou a irmã da pessoa A. Por vezes é-nos referida a profissão do falecido (capitão de um navio, agricultor, comerciante, etc.), um elogio (bom pai, bom cristão, bom líder, etc.) e/ou coisas de renome que ele ou ela tenha feito em vida. O interessante neste caso é a presença de um nó triplo, muito ao género de um trisquel, onde normalmente estaria uma cruz, símbolo muito frequente já que a esmagadora maioria das pedras rúnicas são objectos cristãos. Vejam o exemplo desta:



Encontra-se dentro da catedral, debaixo de um dos pilares. A coisa foi descoberta há umas décadas atrás durante um grande restauro da igreja e achou-se por bem deixar esta pequena parte à vista. Deu-se com outras seis também sob pilares da igreja e duas junto a parede exterior.

Caríssimos wiccans e outros deleitados pelo mundo do oculto, esqueçam muito daquelas tretas que lêem em livros New Age de qualidade duvidosa: a larga maioria das pedras rúnicas que temos são obra de cristãos para cumprir uma função cristã, nomeadamente o rezar pela alma do falecido. Não tem nada de advinhação, esotérico, mágico e outras coisas tais, e de pagão só o aspecto.

Também no interior da catedral encontra-se uma pequena curiosidade:



Um capitel que mostra dois judeus a chupar as tetas de uma porca. É uma peça de esculta anti-semitica, que continua lá por ser parte do património histórico e ao lado da qual a Igreja Sueca colocou o seguinte texto:


Podem clicar para ver a imagem em tamanho máximo.

E como já devem ter percebido pelas fotografias, por aqui continua-se com neve por todo o lado e não é apenas na Suécia: constou-me que há uns dias atrás Oslo esteve com 20 graus abaixo de zero e que a Saxónia, região alemã junto à República Checa, continua coberta de branco. Enquanto isso, na Islândia, neve nem vê-la: ou já se foi toda, ou este ano não chegou sequer a cair. Querem ver que a corrente do Atlântico Norte está a dar sinais de fraqueza... :/

domingo, março 19, 2006

Dia do macho

 

Hoje é dia daqueles homens que por vontade própria ou por acidente são pais de alguém, adoptado ou biologicamente. Ironicamente, a data deve-se ao facto de 19 de Março ser o dia de São José, o homem cuja virilidade não foi suficiente e obrigou a uma imaculada intervenção do Espírito Santo... a história e os seus mitos têm destas coisas :p

Para também não deixar passar a coisa...



Feliz Dia do Pai, pai :p

sábado, março 18, 2006

E vai um sportinguista

 

Como hoje é dia de anos de um spotinguista alcobacense, eu não ia deixar passar a ocasião sem pôr aqui uma breve nota de aniversário. Ora cá vai alho:



Voilá! Uma Sporting Beauty, LOL! Todinha para ti, Sousa :p E que tenhas muitas mais... festas de aniversário, claro! Parabéns!

Sinais da Primavera I

 

Finalmente! Hoje foi finalmente claro que a estação está a mudar! A temperatura não passou dos cinco graus acima de zero e o gelo continua a derreter mais devagar que um caracol, é certo, mas hoje, o dia para o qual estava prevista mais queda de neve, não se viu um único floco a pairar pelo ar. Em vez disso, choveu! Por uns simples quinze minutos, se tanto, mas choveu, coisa que eu não via há meses! O tempo está a deixar de ser para neve e brevemente já só vai cair água! :D



Sim, eu sei, vocês devem estar a pensar grande coisa!, ainda mais estando a chover pr'a caneco em Portugal (pelo menos foi o que eu ouvi dizer), mas depois de meses a fio de neve a coisa dá nisto e um português já só quer é vislumbrar algo que lhe lembre que a Primavera vem aí. O Inverno sueco também cansa, pessoal :p

E que continue a chover em Portugal! Abençoada Nábia!

quinta-feira, março 16, 2006

Outra coisa sueca

 

No seguimento do comentário da Rita na entrada anterior, veja-se uma outra coisa sueca: economia livre de petróleo! Põe os olhos nisto, Sócrates!

"A Suécia (9 milhões de habitantes) planeia estar completamente independente do petróleo dentro de 15 anos: a aposta centra-se totalmente no desenvolvimento de energias renováveis e exclui a construção de mais centrais nucleares.

O conhecimento de que as reservas de petróleo são limitadas, que em breve começarão a escassear, e que a subida do preço do petróleo provoca recessões económicas a nível global, não é uma recente descoberta sueca: até os governantes portugueses sabem isto. Mas os suecos vão para além da teoria, promovendo uma Comissão de Energia que reune académicos, industriais, agricultores, funcionários públicos, cidadãos em geral, a qual reporta directamente ao Parlamento Sueco. O objectivo: criar a primeira economia do mundo livre de petróleo.

A economia sueca foi especialmente abalada pela subida dos preços do petróleo nos anos 70. Abaladas, foram de facto todas as economias, mas só a sueca reagiu no sentido de inverter a repetição do fenómeno: hoje a dependência do petróleo na Suécia situa-se sobretudo ao nível dos transportes; a electricidade já tem origem hidroeléctrica ou nuclear, enquanto que o aquecimento (e as casas suecas, ao contrário das nossas, são realmente quentes todo o ano...) é feito a partir de energia geotérmica e combustão de resíduos.

Entretanto em 1980 um referendo (sim, os suecos votam estas coisas...) decidiu acabar com a energia nuclear, pelo que os dois grandes objectivos energéticos do governo sueco são a independência a prazo do petróleo, mas também da energia nuclear. E a solução passa por explorar os recursos locais. Os incentivos à indústria são também essenciais: por exemplo, neste momento o governo sueco trabalha com empresas como a Saab e a Volvo no sentido de que estas desenvolvam carros e camiões que circulem a a etanol e outros biocombustíveis.

A importância de uma estratégia nacional para a energia é fundamental. Não só ao “escolher” as principais fontes de energia nacional, como ao promover o investimento individual dos próprios cidadãos. E esta promoção pode ser feita pela negativa (por exemplo taxando mais aquilo que vai contra os desígnios nacionais), ou pela positiva (por exemplo comprando excedentes de energia a produtores individuais). Peguemos neste último exemplo: a energia produzida por painéis solares tem obviamente picos a meio do dia e quando o sol é mais intenso: nessa altura um indivíduo com um painél solar no telhado produz muito mais energia que a que precisa. Mas essa altura coincide também com um pico no consumo geral da sociedade: é o momento em que escritórios e fábricas laboram. A coisa parece ter uma solução óbvia: o cidadão vende o excesso para a rede nacional, e a rede nacional fica toda contente por ter acesso a energia renovável na qual não teve que investir. Na Califórnia, ao contractualizar a compra de energia à rede nacional o cidadão pode determinar que uma parte tenha origem renovável (o que obriga logicamente à existência de um mercado para energias renováveis).

Em Portugal os cidadãos que investem em energias renováveis por sua conta e risco são ludribiados por governos que fogem a compromissos (Santana Lopes anulou o preço fixo de compra de energia por parte da EDP) e que claramente não possuem visão de futuro: para Sócrates, os nós de captação de energia na rede nacional estarão saturados até daqui a não sei quantos anos! Isto é, telemóveis e microsoft precisam dum choque tecnológico em Portugal, mas aumentar os nós de captação é um problema tão complicado que só daqui a anos...

Nós não temos que imitar a Suécia: a Islândia está a apostar na alimentação de carros e barcos com hidrogénio, e o Brazil apostou no alcool produzido a partir da cana do açúcar. O segredo está justamente em apostar nos recursos próprios em vez de comprar os dos outros. E nós temos sol a rodos, vento, marés que nunca acabam..."



Texto retirado do Blogo Social Português

Coisas suecas III

 

A Primavera bem que tenta, mas os sinais de mudança de estação são parcos e ainda não se conseguem impôr sobre o tempo de Inverno: hoje estamos com céu limpo e 1 grau acima de zero, a neve derrete lentamente, mais lenta que um caracol, mas já se prevê temperaturas negativas e mais queda de neve para o fim-de-semana... :/ Assim se vai no reino da Suécia, onde se vê coisas como estas:



Pouco interessa se era água corrente: o frio não a deixou continuar a correr.



Ao lado da minha sala de aula há uma pequena cozinha para uso dos professores e funcionários. A porta está sempre aberta e nós, os alunos do mestrado, já que está mesmo ao nosso lado, também lhe costumamos dar uso, nomeadamente a esta pequena caixa de doces. Como é que funciona? Simples: escolhe-se o chocolate e deixa-se lá o dinheiro. Não estão fechados, não estão atrás de um vidro, não há ninguém de guarda: é tirar e levar e confia-se nas pessoas o suficiente para se acreditar que todas pagam de livre vontade. A caixa está lá desde que pr'a cá vim, por isso suponho que o sistema funciona. Código de honra sueco, diz o Shane.



Na Suécia, o gelo estica-se em muitos sítios, como nas paredes exteriores desta igreja em Estocolmo...



... ou nas traseiras de um supermercado aqui mesmo ao lado. Aliás...



... é quando ele começa a derreter e a cair dos telhados juntamente com toda a neve acumulada que se vê destas coisas na rua, um pouco por todo o lado.



Eis um doce muito popular na Suécia, tanto que, pelo que me disseram, é normal os miúdos quererem uma coisa destas nas festas de anos. Nada mais é do que camadas de natas, gelado de baunilha, banana, suspiros e chocolate. Bomba calórica :p



E os bonecos de neve continuam a aparecer. A semana passada dei com este: homem-coelho com um coelho ao colo, mesmo a fazer lembrar o filme Donnie Darko :]



Isto, meus caros, serve para a recolha selectiva de latas e garrafas de plástico e encontra-se no supermercado aqui ao lado da Sernanders väg. A pessoa deve colocar as embalagens uma a uma pelo orifício circular, a máquina regista a quantidade e, no fim, diz-nos qual a quantia a que temos direito. Sim, porque isto dá dinheiro ao cidadão anónimo. Coisa de cinco cêntimos por garrafa ou lata e há a opção de doar o montante à Cruz Vermelha, bastando para isso carregar num dos botões. Caso se queira o dinheiro, carrega-se noutro e a máquina emite um talão que pode ser entregue na caixa do supermercado, onde a quantia será descontada na factura das compras. Reciclar compensa... pelo menos na Suécia tentam fazer passar essa ideia.

E não se esqueçam: Semana da Galiza em Braga, entre os dias 18 e 26 deste mês. Consta que a cidade vai estar cheia de galegos, por isso aproveitem e convivam com os irmãos dos portugueses ;)

quarta-feira, março 15, 2006

Coisas contagiantes

 

A gripe das aves está definitivamente a entrar na Escandinávia: há umas semanas foram uns quantos patos que morreram, agora as autoridades suecas detectaram o vírus num mocho e as dinamarquesas numa ave selvagem não especificada. Vejam as notícias aqui e aqui: a coisa já ascende às três dezenas de casos.

Não há melhor altura, então, para publicar aqui uma coisa que várias pessoas já me mandaram e que provoca algo que, tal como a gripe das aves, é contagiante: o riso :D



A Rita, a portuguesa que está a estudar biologia cá em Uppsala, disse-me que os corpos dos animais encontrados mortos estão armazenados na faculdade dela, devidamente congelados e catalogados. Eu já lhe disse para ela os libertar e ver o que é que acontece, mas a Rita acha que os animais iam ter dificuldade em voar, pelo menos nas condições actuais... é um daqueles mistérios da ciência :p


P.S.: Caso haja alguém a sentir-se ofendido (hoje em dia nunca se sabe)... Rir com a gripe das aves não implica que não se leve o assunto a sério, mas antes que se consegue vê-lo sem pânicos e receios desnecessários, redutível a uma piada como qualquer outra coisa da vida diária. Conseguir fazer humor daquilo que nos ameaça (ou controla) faz muitas vezes a diferença entre o pensamento racional, livre de dogmas e medos, e o fundamentalismo tacanho capaz de lançar pessoas em actos de pânico generalizado ou pilhagem de embaixadas. O monge que no Nome da Rosa se opunha à comédia, por temer que ela pusesse em causa a crença na omnipotência divina, bem o sabia: o humor liberta!

Foi-se! :D

 

E já está! Acabei de vir da última aula com o bimbo das runas! Finalmente estou livre daquelas duas duras dementes horas de docência aparvalhada! Ainda tenho que fazer o trabalho para ele, mas que se lixe, já não tenho que o aturar a não ser por escrito e apenas se precisar de lhe enviar alguma mensagem de correio electrónico. O homem deu de frosques e só por isso eu estou com um sorriso de orelha a orelha ao som dos Wham :D Adios, Svante! :D

Celebremos o momento com umas fotografias tiradas na segunda-feira de manhã, quando Uppsala acordou excepcionalmente branca...







... graças a estes minúsculos flocos de neve agarrados a tudo quanto era ramo, estaca, corrimão, you name it!

Beijinhos e abraços a todos! Hoje seguem os primeiros postais de Primavera para Portugal ;) Por cá é que não há maneira dela dar os primeiros sinais: continuamos com neve pelo menos até aos joelhos e parece que ainda vem mais a caminho :/