quinta-feira, março 23, 2006

As voltas da faculdade

 

Esta entrada já devia ter sido publicada há algum tempo atrás. Já cá estou desde Agosto e, por incrível que pareça, ainda não vos mostrei o interior da minha faculdade. A única pessoa que chegou a ver um vislumbre da coisa foi o Ferro, via webcam e porque eu estava com o portátil na faculdade quando ele entrou no MSN. Por isso, para colmatar esta pequena falha da minha parte, cá vão umas quantas fotografias.

Recordo que parte da minha faculdade - o Humanistiskt centrum ou Engelska Parken - alojava há um ou dois anos atrás os departamentos de física e química, tanto que parte da estrutura ainda aparece em alguns mapas da cidade com o nome de Kemikum. Em Setembro, quando eu começei as aulas, ainda se estava dar uma última pintura nalgumas paredes exteriores e o interior cheirava a novo.



A entrada principal do edifício...



... e a escadaria que dá acesso ao Departamento de Arqueologia e História Antiga.



Como podem ver, o espaço imediatamente em redor das escadas tem luz natural em abundância e sofás e mesas para estudar, escrever, comer, conversar, descansar, etc. A propósito, foi numa destas mesas que uma das minhas colegas encontrou um dos livros via Book Crossing (para quem já não se lembra, vejam aqui). Também nestes sofás, como noutros pontos do edifício, é possível aceder à internet pela rede sem fios da faculdade.



A entrada no piso do meu departamento...



... e o seu longo corredor :p Por detrás da porta imediatamente à esquerda...



... está a minha sala de aula. A porta seguinte já sabem:



É a cozinha dos professores, a tal que tem a famosa caixa dos chocolates (está ali no lado esquerdo, entre o primeiro e o último móvel). Os estudantes também têm direito a uma divisão destas, localizada um piso mais abaixo...



... e devidamente equipada com umas quantas mesas...



... dez microndas e cinco frigoríficos, para os estudantes guardarem a comida que tragam de casa enquanto estão nas aulas. Também há lava-loiças, mas não aparecem na fotografia. E não, não é preciso pedir uma chave para ter acesso a esta cozinha: a porta está sempre aberta e qualquer pessoa pode entrar.

Depois temos a cantina universitária:



Uma vez mais, muito espaço e imensa luz natural. Reparem na parte superior do pilar imediatamente do lado esquerdo onde, mais ou menos ao nível do candeeiro, está pendurado um pequeno objecto. É uma coisa meramente decorativa que está em todos os pilares da divisão. Eis dois exemplares:





Para ir da sala de aula até à catina (ou vice-versa), tenho que passar por este corredor...



... onde, do lado esquerdo, estão uma data de computadores com acesso à internet e, do lado direito, fica a biblioteca da faculdade, com os seus quatro pisos e pelo menos uma cave com diversos arquivos. Por fim, vamos a umas fotografias das traseiras:







Visto isto, será talvez bom voltar a dizer que na Suécia não se paga propinas. A coisa mais parecida que sai do bolso de quem cá estuda é a inscrição semestral na Associação de Estudantes, algo que ronda os 40 euros, no máximo. Acrescente-se ainda que é obrigatório fazê-lo, uma vez que o cartão da associação é o cartão de estudante: os serviços da universidade não emitem dessas coisas, porque os alunos são considerados responsáveis por eles mesmos. Claro que a coisa nunca ia resultar em Portugal, onde as associações de estudantes funcionam demasiadas vezes ao sabor de jogos politico-partidários...

E só para dar que pensar (mais ainda): um cidadão sueco não só não tem que pagar para estudar numa universidade, como recebe do Estado qualquer coisa como 300 euros por ser estudante (já não me recordo se por mês, se por semestre). Mais: no estrangeiro, um sueco também pode estudar de graça, não porque esteja isento de pagamento graças a algum acordo internacional, mas porque o Estado sueco paga-lhe as propinas.

Claro que estas duas coisas também não iam resultar em Portugal: porque a fuga aos impostos é tremenda, porque gastamos milhões de euros a manter mordomias e privilégios de alguns, porque esbanjamos rios de dinheiro em obras faraónicas que enchem mais a vista que outra coisa, porque achamos que desenvolvimento se mede pela altura dos prédios, porque é um problema enorme ter um projecto nacional de jeito a médio prazo (quanto mais a longo!) e porque temos uma productividade de miséria, logo não acumulamos riqueza suficiente para termos níveis de qualidade de vida escandinavos. Ainda há uns dias atrás, a Rita estava-me a contar como quinze estufas da faculdade dela são controladas via computador por um único homem de 75 anos. Façam a experiência em Portugal: ponham um agricultor, trabalhador fabril ou funcionário público à frente de um computador e logo vêem o que (não) acontece.

3 Comments:

Anonymous Anónimo disse...

Olá tuga às terras frias da Suécia,
é como gosto que te vejo escrever sobre um tema, que para quem, como nós teve a oportunidade de conhecer «o outro mundo», o mundo do Primeirissimo Mundo, ainda continua a gerar conflitos de desgotos de ver a evolução estanque num país de grandes potencialidades. É verdade!! Não podemos descuidar de que Portugal tem mais pessoas que a Suécia, por exemplo, num país mais pequeno. Um país de imensa heterogeneidade (um pouco pleonasticamente) e de condições únicas. Os portugueses são um povo fantástico e maravilhoso e o seu maior defeito é seu único defeito é serem tão orgulhosos que se voltam para si mesmos quando lhes é pedido para divulgar o que fazem. São aversos a essa magnificiência social. Algumas situações caimos no engraçado e no encantador por outro lado no exagero e despropósito. Contudo tentemos provar a nós mesmos que conseguimos redimir-nos e respeitarmo-nos para um bem comum.
é difícil voltar ter os (des)hábitos que dantes eram tão próprios contudo, o nosso cantinho no mundo é afinal de tudo a nossa casa. A nossa tarefa é deixar aqui um pouco do bom que daí trouxemos.

Beijinhos!!!

3:48 da tarde  
Blogger Rita disse...

Olha eu quando começo a ficar amargurada em relação a Portugal, ouço Ala dos Namorados e Sérgio Godinho, é o que ainda me faz gostar do meu país.
Bem, mas já me fui informar com a vizinha: a estudantes do ensino superior, o Estado Sueco paga um subsídio que vai de 200 euros mensais para cima, independentemente do IRS familiar. Pk é que eu não nasci aqui? E pk é que me começa a parecer que NÃO quero criar os meus filhos em Portugal?

4:55 da tarde  
Blogger Filipe disse...

Até fiquei mal disposto! Ando eu a trabalhar para pagar os estudos e depois venho a saber que há pessoas que são "pagas" para estudar! Não sabem a sorte que têm! Que nunca tenham de contar os trocos para pagar a faculdade, é o que eu lhes desejo! E as instalações deles são óptimas...Kem me dera!

7:12 da tarde  

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