Partir a neve a rir - Primeira parte

Ora, um dos filhos de Zeus era (e é) um outro ser divino chamado Dionysos, aquele que os portugueses têm muito a mania de chamar Dionisio: quando muito seria Dioniso, sem um i na última sílaba. Acontece que Hera, a mulher de Zeus, nunca andava muito contente com as escapadelas terrenas do marido e, muito naturalmente, desenvolveu um divino sentido de vingança que, por razões de hierarquia, não se podia abater sobre o marido, logo quem pagava as favas eram as amantes terrenas (e os filhos, se possível). Assim foi com a mãe do deus do vinho, estava ela ainda grávida de Dionysos, quando Zeus, a pedido dela e por sugestão de Hera, mostrou-se completamente nu! E quando digo completamente, é mesmo completamente: revelou-se em toda a sua essência divina sem nada a tapar, fosse túnica, barba, sandálias, folha ou tecido estrategicamente colocados, ramos de flores ou forma humana, animal ou vegetal (ou chuva dourada). A coisa foi fatal para a pobre mulher porque Zeus é deus dos trovões, o que quer dizer ela acabou esturricada de cima a baixo. Mais uma vez, é arte (mesmo que infeliz): o máximo que um bom macho latino consegue fazer quando ele se despe diante de uma mulher é fazê-la rir ou chorar. Fulminá-la com um strip integral é obra!
Mas antes da pobre rapariga morrer por motivos de uma descarga eléctrica inesperada, Zeus retirou-lhe o feto do ventre e coseu-o à sua coxa, onde o ainda embrião de Dionysos passou os seus últimos meses de gestação até nascer firme e hirto como uma pipa de vinho. Por este motivo ele veio ao mundo como um imortal e ganhou o título de Deus nascido duas vezes, além de se poder dizer com toda a propriedade que é tão filho da sua mãe, como do seu pai.
E perguntam vocês: o que é que esta história toda tem a ver com a Suécia e a neve fora de estação? Nada! Ou quase nada. Dionysos é conhecido como deus do vinho, sim senhor, mas os seus atributos abragem muitas outras coisas e uma delas é toda a vegetação de um modo geral. Ora, já que a dita cuja por aqui não está a crescer nem que a vaca tussa (bela expressão portuga), vamos então recorrer a uma manifestação sublime dessa força vital que quebra amarras e faz as coisas crescer: o riso! Por alguma coisa um dos títulos de Dionysos é Amigo do Riso, algo que também assenta que nem uma luva no Freyr.